Qualidade Vivida

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Meu processo de aposentadoria

Como prometido, vou explicar como foi o meu processo de aposentadoria, depois do diagnóstico da Esclerose Múltipla.
Eu abria vários surtos, durante o ano. Em cada um deles, uma internação e um afastamento do trabalho. Decidi, junto com o meu médico usar o Inteferon - AVONEX. Eu tomava a injeção na sexta-feira à noite e ficava LITERALMENTE de cama, com febre e uma dor insuportável no corpo durante todo o sábado e parte do domingo. Segunda saía para trabalhar às 6h da manhã e só retornava às 22h. Lecionava em duas universidades e fazia doutorado em Filosofia. Minha vida era uma correria só... No meu último surto antes de aposentar, perdi 90% da visão das duas vistas. Como faria para trabalhar sem carro, tendo que me deslocar de campus universitário para outro? Óbvio que entrei em depressão e tive medo de perder os meus empregos! A última perita que me atendeu (passar por perícia virou rotina na minha vida) perguntou como seria se eu fosse aposentada e eu disse, que tinha muito medo pela perda financeira. Ela pouco falou. Me examinou dos pés à cabeça, fez vários testes e analisou todos os exames de ressonância, acuidade visual, campo visual e líquor. Quando eu tentava falar ela dizia: "um minutinho, por favor, já vou falar com você". Eu tinha nas mãos um livro do Nietzsche que eu estava lendo e ela perguntou como eu conseguia ler. E eu li para ela. Ela perguntou por quanto tempo eu conseguia ler daquela maneira (com o livro grudado no nariz) e eu disse "no máximo 10 minutos", depois disso eu enjoo e sinto muita dor de cabeça e nos olhos. Espero passar e retomo. Ela voltou-se para o computador - eu não tenho ideia do que ela anotou - e disse que estava encaminhando o pedido de aposentadoria, que eu aguardasse um contato. Assim foi! Em menos de 15 dias eu recebi uma carta do INSS dizendo que eu estava aposentada por invalidez. Esse título pesou! Inválida, eu? Nunca fui! Mas para falar a verdade, acho que eles podiam apenas mudar o título! A aposentadoria salvou a minha vida!
Evidente que precisei me adaptar à minha nova realidade financeira - estupidamente desleal! Entretanto, ganhei em qualidade de vida!
Fui orientada pelo meu médico e pela minha terepêuta a constituir uma rotina! Essa rotina é FUNDAMENTAL! Hoje, cuido de mim, recuperei parte da visão, tenho uma alimentação equilibrada e mesmo com os episódios de cansaço absurdos - alguns dias é humanamente impossível levantar da cama - eu sei que vai passar, afinal, eu posso ficar na cama quando o meu corpo não consegue levantar!
Sou muito a favor da aposentadoria para os portadores de EM! Lógico, que quando eles não fazem da doença um drama grego para se vitimizarem diante da sociedade!