Qualidade Vivida

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Rótulos não me definem, mas me apresentam

Ultimamente tenho pensado muito nessa palavra: RÓTULO
O que é e para que serve?
Antes de falar disso, quero desabafar. Ao longo de anos, repudiei os rótulos. Hoje, chamo de rótulos, aquilo que me ajuda a caminhar naquele instante. Sou... ? ! ?! ; : , .
professor, pedagogo, filósofo, terapeuta, esclerosado, bombeiro, engenheiro, arquiteto, músico, esclerosado, aposentado, pensionista, médico, artista plástico, esclerosado, do lar, confeiteiro, lojista, advogado, esclerosado, economista, contador, veterinário, cozinheiro, esclerosado...


Como na propaganda, rótulos não me definem... porém... ME APRESENTAM!
O rótulo foi criado para apresentar coisas e não pessoas. Vamos pensar sobre isso... Será que o olhar do outro não me coisifica? Não temos controle sobre a forma como o outro nos olha, mas podemos dizer a ele como desejamos ser vistos, sem que haja um tratado para isso. É a nossa forma de estar no mundo que vai nos apresentando e essa existência é construída diariamente, no intermédio entre o que eu sou, o que eu gostaria de ser e como o outro me vê. É pelo outro que eu me reconheço e "sei" que existo; esse outro, é, inclusive, o outro do espelho. 
Várias vezes ao dia exercitamos papéis sociais que são absolutamente necessários para nossa sobrevivência. As interferências emocionais que um rótulo pode causar no indivíduo, quando é atribuída uma identidade a ele sem que ele a assuma como sua, muitas vezes é catastrófica. Já repararam que é PROIBIDO colocarmos o rótulo de um produto em outro? É crime de identidade. Deveríamos tratar de nós como algumas pessoas tratam das coisas: COM RESPEITO E SERIEDADE.
Eu não posso atribuir ao outro uma identidade que ele não assumiu como sua. É crime de pré-conceito. Mas se eu digo, por exemplo, que sou "esclerosada", assumo diante da sociedade que tenho EM, portanto, qualquer pessoa que se refira a mim como "esclerosada" não está cometendo crime algum, embora eu seja pra além da EM - simpática, atraente, divertida, alto astral... (algumas pessoas têm limitações para enxergarem o outro. Talvez reflexos internos nunca acessados)
Assumir uma doença não é andar com uma placa no pescoço, é contribuir para torná-la acessível em qualquer esfera, principalmente a do bem estar de quem convive com ela. Ignorar que você é portador de uma doença é negligenciar com a vida. Doença é Pathos, que no grego, significa excesso, paixão, sob domínio de algo. Saúde é o encontro que temos com as nossas potencialidades, transformando-as em ações positivas.  Se estou portador de uma doença, isso não significa dizer que estou ausente de saúde. É a saúde que me fará fluir em bem estar, apesar da doença. Ela favorecerá que eu respeite os meus limites para que, futuramente, eu possa transcendê-los. Ir além de uma capacidade implica em aumentar sempre e cada vez mais a minha potência de agir, atraindo-me bons encontros e vivências. Como podem perceber, ser portador de algo é carga enorme de responsabilidade para ignorá-lo. 
Rótulos não me definem, mas me apresentam e abrem portas quando o assumo, reconheço, preciso e sei usá-lo com responsabilidade. Podem fechar portas? Evidente. Mas se alguém fecha a porta para mim, porque sou portadora de EM, é sinal de que não sou bem vinda ali. Neste caso, que bom que encontrei a porta fechada, assim terei a oportunidade de buscar por uma que estará aberta para me acolher.
Você tem uma doença que carece de informação? Comece vencendo o próprio preconceito e assuma esse pathos. A primeira maneira para vencermos às paixões, sejam elas quais forem, é reconhecendo que elas existem. Tantas coisas transbordam de dentro de nós, que nem sempre são bacanas... E se não são legais, qual a melhor maneira de conviver com os excessos, sem que os transbordamentos atrapalhem nossa existência?! Já parou para pensar nisso? Bom momento para começar...

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