Qualidade Vivida

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Caixa de Costura

Venho costurando a minha vida
com linhas de saudade.
Procuro equilibrar-lhes a cor
para que o resultado final não seja triste.
Por vezes, é o cinza que insiste;
por vezes, impera o marrom.
Ainda bem que tem saudade bonita;
mudo o tom, amarro fitas,
busco a outra ponta do novelo;
intercalo a trama em amarelo.
A saudade é assim mesmo,
tecelã do tempo.
Quando menos se espera,
arremata o momento, leva embora,
deixa a porta encostada, o cadarço de fora,
e nunca avisa a hora de voltar.
Ainda hei de costurar com verde florescente
e, se a saudade chegar autoritariamente,
vai se sentir enfraquecida.
Enquanto procuro a cor,
vou costurando a vida,
sem saber qual vai ser o resultado.
Caso ele não fique combinado,
dou um nó, encosto agulha, guardo a linha,
que essa culpa roxa não é minha.
É uma artimanha branca do passado.
(Flora Figueiredo, in O Trem Que Traz a Noite, 2000)

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sobre portas...

"A alma do homem é como água;
Vem do Céu
E sobe para o Céu,
Para depois voltar à Terra,
Em eterno ir e vir".
Goethe

Olhos de poeta...
Na manhã de hoje eu resolvi mergulhar em alguns alfarrábios e me deparei com o texto de Rubem Alves, A complicada arte de ver. Como está sendo bom começar o dia olhando com os olhos de dentro... começar o dia ensinando aos meus olhos a olharem para as coisas comuns como se nunca as tivesse visto. O resultado é que muitas coisas comuns, que eu vivencio no curso da minha rotina, não eram "olhadas" por mim, mas vistas... Acho que todos sabem dessa sutil diferença entre ver e olhar... Aquilo que eu vejo, de modo geral, é aquilo que é captado pelos meus olhos. Pois bem, para mim, a partir de agora, aquilo que eu olho é tudo o que eu posso ver.
No percurso do meu apartamento até a portaria esbarrei, logo de partida, com a porta cozinha... A porta da minha cozinha guarda por dentro as chaves de todos os moradores da casa: eu, Lorena e Juliany, e de quem mais chegar... Atrás da porta - ou na frente dela, dependendo do lugar de onde a olhemos - eu prendi um claviculário e criei o hábito de pendurarmos todas as chaves, ao entrar na casa. Ali, naquela simples porta, eu tenho um objeto que representa o fechar e abrir das vidas de cada uma de nós... Resolvi que eu sairia hoje, com a imagem do "abrir portas" para eu entrar em todos os lugares que se fizessem necessários a minha presença. Porta do elevador e ele ali, me esperando sem que eu precisasse chamá-lo... dentro, um espelho... que mulher não se olha no espelho do elevador? Eu! Saio tão apressada (e sempre adiantada porque odeio atrasar compromissos), que entro de costas e nem percebo que diante de mim estou eu, toda arrumada, cuidadosa com os detalhes - do perfume ao anel que vai no dedo... Sim, eu consegui ver o meu cheiro naquele espelho... Para sair dele - não mais do elevador, mas do espelho - outra porta... e de fácil acesso... os passos que me conduziram do hall de entrada - que para mim era de saída - pareciam de quem ia ao encontro de algo completamente novo... e era... cada planta daqueles jardins, cada brinquedo daquele play, cada criança que aguardava a van da escola, o porteiro, os seguranças... cada pessoa ou coisa daquela natureza me pareciam diferentes... Outra porta... e... alguém a abriu para mim... e o meu táxi estava lá... o mesmo diferente motorista... a mesma diferente estação do rádio... a mesma diferente conversa entre mim e o taxista... mais uma porta... para entrar e para sair... cheguei ao trabalho... mais uma porta... e outra... e outra... e outra... e todas as portas pareciam diferentes e todas foram abertas por mim ou para mim de forma diferente... e também fechadas... delicadamente fechadas... como no ciclo da vida... "em eterno ir e vir"...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Facilitadores de vida...

Quinta-feira, dia de Biodanza! Seria mais uma aula espetacular - como sempre - não fosse a bela homenagem que recebi do meu grupo regular! Pois é... a aula ficou registrada em mim e nas minhas filhas!
Despedidas nunca foram o meu forte. Sempre digo: nos encontramos na próxima curva... Assim é a vida para mim: encontros e desencontros sucessivos e potentes. Desde 2002 eu venho aprendendo a lidar com a vida, como se eu estivesse em uma montanha russa dessas bem altas e com descidas bem íngremes. Conforme o tempo foi passando, o aprendizado foi suavizando as descidas e elas deixaram de ser uma vivência assustadora, a media que eu fui percebendo que as chegadas eram sempre protegidas. Aprendi a acreditar em mim e isso me gerou confiança no outro. Aprendi a desfrutar do meio do caminho! Perdi o medo de abismos e me lançar em novos desafios passou a ser uma constante. Mais um fim de ciclo. E como todos os meus ciclos -  intenso e educativo!
O Centro Cultural Caravelas representou o meu desafio mais gostoso. Lá aprendi a coordenar equipes multidisciplinares, pluridisciplinares e transdisciplinares. Lá aprendi a transformar conflitos em produção. Lá aprendi que lidar com as diferenças é bem difícil, mas mega gratificante. Lá viabilizei com muita sutileza a importância de respeitar os limites do outro. Lá aprendi, principalmente, que na vida para ganharmos precisamos saber perder. Perdemos o espaço físico, mas ganhamos uns aos outros. Somos 19 parceiros que trabalham sempre muito de bem com a vida.
Obrigada Bruno Martins e Carolina Buoro, meus facilitadores de vida, pela sensibilidade de levar para o nosso encontro semanal  pessoas importantíssimas na minha vida. Todo o grupo esteve voltado para embalar e acolher mais um renascimento. Isso sim é um privilégio e uma benção! Ainda dando graças por vocês estarem em minha vida... Sim... Eu sou uma Fênix!
Amo cada um que aparece nessa foto...
Hora de recuperar o fôlego para novos e sucessivos renascimentos...