Qualidade Vivida

sexta-feira, 20 de março de 2015

Sobre o projeto terapêutico "Educação Construída"

"Sou uma jardineira! Gosto de cuidar de gente desde o processo de plantio..."
(CB)

O que é?

Exatamente aquilo que o nome sugere: a construção da educação, porém, da nossa própria educação, assistida e facilitada por um interlocutor devidamente capacitado em termos de formação acadêmica e de vida.
Ao nascermos, recebemos dos nossos "pais"* os valores que eles acreditam que são os melhores para nós. Aprendemos a ler o mundo com o olhar deles, e aos poucos vamos construindo nosso próprio código de valores. Quando a base é forte, ela fica entranhada em nós e nem sempre nos damos conta disso. O que acontece? Repassamos ao mundo, muitas vezes, aquilo que não nos pertence e que supostamente defendemos como "verdade".
A Educação Construída nos ajuda a olhar estes valores e pensarmos sobre eles nas nossas ações cotidianas, tornando-nos capazes de transformarmos a nossa realidade.


Como?
Através de encontros semanais, de 60 minutos, onde a fala é o instrumento principal do cliente, mas apenas uma ferramenta para o seu interlocutor, que observa todo o processo, e ocupa o lugar da fala com propostas de vivências de diversas naturezas, inclusive a da fala. A leitura do facilitador acontece desde o momento em que o cliente chega a ele para o encontro. Os movimentos corporais, o discurso oral e escrito, tudo é avaliado e compartilhado com o cliente nos dez minutos finais da sessão.
Escolhi como approach um dos métodos usado pela minha terapêuta Celina Gavino, que foi uma das grandes responsáveis pelo meu processo de transformação, bem como, uma forte figura de incentivo para a criação desse método. Qual seja, entender que o cliente que retorna a consulta já não é mais o mesmo, portanto, a cada consulta recebo o mesmo diferente cliente.

Quem é o facilitador?
Ele é um interlocutor desse processo. Este interlocutor é um profissional da Educação, com formação em filosofia e/ou psicologia.

Por que um Educador?
O Educador é aquele profissional cuja formação acadêmica é pedagogia. O pedagogo é aquele que acompanha o outro no processo de aprendizagem. Eu afirmo que a aprendizagem é tanto mais saborosa quando o conhecimento que ele adquire sobre o que deseja está incorporado em sua vida, ou faz sentido na sua aspiração de vida futura. Abrir o caminho para permitir a aprendizagem sobre qualquer coisa que seja do interesse do cliente é tarefa que o pedagogo competente desempenha com muita habilidade e sensibilidade. O interlocutor auxilia no processo de (des)coberta dos valores do cliente, facilitando o processo de encontro dele com ele mesmo, para que ele seja capaz de fazer escolhas que aumentem a sua potência de agir, no mundo. Quando eu reconheço os meus valores de base, eu sou capaz de saber identificar o que eu quero e o que não quero para a minha vida, tornando-me potente para criar novos valores ou simplesmente acolher como meus aqueles que eu recebi e julgo pertinente em meu percurso.
Não existe o bom ou mau valor, mas aquele que é melhor na vida de cada um. O respeito aos valores trazidos e posteriormente escolhidos por cada cliente é ponto fundamental para a transformação do processo ético.

O que é a ética e o que é a moral, neste trabalho?
A ética é a forma como cada um de nós está e age no mundo. A moral são os códigos que incorporamos para estarmos e agirmos no mundo. A ética diz respeito a minha ação no mundo, independente dos valores que eu aprendo ou incorporo. Porém, só é tratada como ética quando a minha ação é entendida e capaz de ser explicada e defendida por mim, mesmo que fira os padrões da sociedade vigente - neste caso, tenho que ser capaz de responder pelos meus atos, em conformidade com as regras impostas pela sociedade.
Em toda ação ética existe o componente moral, posto que vivemos em sociedade. O mais importante é que saibamos responder por nossas escolhas, independente dos valores imputados pela sociedade. Costumo dizer que a pessoa ética não precisa de um código moral para ditar as regras de como deve ser a sua vida, posto que ela sabe o que é ou não melhor para ela.

Por que é terapêutico?
O termo "terapêutico" se origina na Grécia, usado para designar os escravos que eram uma espécie de enfermeiros encarregados de cuidar de quem necessitava. Significa: "aquele que cuida".
Hoje, chamamos terapêutica, toda a forma de cuidado assistido.
O cuidado terapêutico com o outro deve, necessariamente, gerar a transformação de quem é cuidado. Porém, para que isso ocorra, o cliente deve estar disponível, aberto para o processo. Sem a entrega do cliente, a transformação não acontece. Sendo assim, afirmamos que 50% da resposta da terapia é do cliente, os outros 50% são méritos distribuídos, inclusive com o terapeuta, mas não apenas por ele.

Por que chamar o terapeuta de facilitador?
O termo "facilitador" foi acolhido por mim ao longo de 10 anos, quando fui aluna de Biodanza. Foi na Biodanza que ouvi o termo ser usado pela primeira vez, na incumbência de quem estava conduzindo o grupo. Achei fantástica a aplicação do termo ao trabalho. Acredito que sempre que estamos sob a responsabilidade de condução de qualquer projeto, somos os facilitadores daquele processo.

A quem se destina?
A qualquer pessoa que deseja (re)pensar a sua vida e criar novas possibilidades, mais potentes, para vivenciar seu percurso a sua maneira e não como os outros gostariam que fosse.
Aos adolescentes, em especial, o trabalho pode ser destinado a escolha da carreira. E, neste caso, o comprometimento precisa ser do adolescente, muito mais do que da família, uma vez que trabalharemos com a desconstrução dos valores de base, na intenção de encontrar o projeto de vida que mais vai ao encontro das aspirações do cliente e não da família.


* Usei o termo "pais" por entender que, hoje, a criança, ao nascer, é acolhida por diferentes formas de maternidade/paternidade.

Cláudia Barbeito
Educadora, Especialista em História da Filosofia, com mestrado e créditos de doutorado em Filosofia

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