Qualidade Vivida

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Eu, os cães e a Esclerose Múltipla

Sexta-feira estarei em São Paulo, para discutir no sábado e domingo, sobre o cenário da Esclerose Múltipla no Brasil - projeto de lei, acesso ao tratamento, avanço da medicina, importância do apoio psicológico, acessibilidade, empregabilidade, informações sobre a doença, entre tantos outos assuntos importantes sobre a EM - e preciso encontrar um lar para o Amor, até quinta!
Cá estou, dividida entre a busca de um lar para um adorável cãozinho abandonado e o encontro de Blogueiros portadores de EM... Duas causas nobres e muito relevantes...
Eu "ainda" fico abalada com a banalização que alguns humanos dão à vida, seja ela qual for...
Ontem, como de costume, fui dar a minha caminhada com a Amora - minha cadelinha. Amora é mais conhecida do que eu no percurso... Na calçada do clube "ASBAC", uma senhora nos parou e disse:
"- Achei que fosse ela. Até parei par me certificar. Acabaram de abandonar um cachorro ali no ponto de ônibus. "
Dei um sorriso, bom dia e segui minha caminhada, que passa, inclusive, pelo ponto de ônibus referido pela senhora.
Um tumulto em torno de algo e quando me aproximei vi o cãozinho assustado, encostado na parede. Cada um que tentava se aproximar ele tentava escapar, rosnando (os cães não atacam sem antes rosnar, alguns humanos deveriam ter isso como lição). Evidente que fui me aproximando dele devagar... Até para acalmá-lo. Pois é... foi comigo que ele permitiu o primeiro toque! Um senhor sugeriu que eu tentasse levá-lo até um Pet Shop próximo, que doava cães abandonados... Sr. Emanuel... Uma criatura muito especial... Ficamos amigos!
Conforme eu saia de perto, ele me seguia... Como virar as costas para um ser, que acabara (supostamente) de ser abandonado, se eu fui a única no meio da multidão a quem ele confiou?
Bem, this is impossible for me! Sr. Emanuel se prontificou a levar a Amora, enquanto eu o carreguei no colo e fomos em vários Pets pedindo ajuda e perguntando se alguém se interessava por ele... Ninguém... Foi quando decidi trazê-lo para minha casa, mesmo com a minha cadelinha no cio...
Passei no veterinário, pedi para dar um banho, vermifugar e dar remédio para pulga e carrapato. Amora o recebeu como uma perfeita anfitriã!
Dormi com o "Amor" (eu sei que não devemos dar nome ao animal que não ficará conosco) e minha filha com a Amora. Ele dormiu abraçadinho comigo e a cada movimento meu ele me agarrava com as patinhas... Chorei a noite toda...
No auge da minha insônia, me dei conta de que quando convido um morador de rua para tomar banho em minha casa e ofereço-lhe comida e água, em seguida ele retorna à rua. Mas um animal eu não consigo devolver à rua. Estou valorizando mais a vida canina do que a humana?
Ok... eu sei que minha casa não é abrigo! Aliás... é a minha ética e nela só entra quem for convidado. Pois é... perdi o sono de tanto chorar, de tanto pensar nessa banalidade em que a vida se tornou... Não quero me acostumar ao olhar indiferente para as diferentes situações de vida, tampouco tenho a pretensão de salvar a humanidade da sua sordidez, porém,  cabe um olhar carinhoso para cada situação. Essa sou sou eu! Caminho com o coração... Essa foi a lição que a Esclerose Múltipla me deixou... Ter sido abraçada no pior momento da minha vida, por um sem número de pessoas me transformou em um ser humano capaz de olhar o outro e vir através dele as suas possibilidades de uma vida melhor... Ainda que seja só um banho, um prato de comida, um copo de água e uma boa conversa na cozinha...




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