Qualidade Vivida

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Sobre portas...

"A alma do homem é como água;
Vem do Céu
E sobe para o Céu,
Para depois voltar à Terra,
Em eterno ir e vir".
Goethe

Olhos de poeta...
Na manhã de hoje eu resolvi mergulhar em alguns alfarrábios e me deparei com o texto de Rubem Alves, A complicada arte de ver. Como está sendo bom começar o dia olhando com os olhos de dentro... começar o dia ensinando aos meus olhos a olharem para as coisas comuns como se nunca as tivesse visto. O resultado é que muitas coisas comuns, que eu vivencio no curso da minha rotina, não eram "olhadas" por mim, mas vistas... Acho que todos sabem dessa sutil diferença entre ver e olhar... Aquilo que eu vejo, de modo geral, é aquilo que é captado pelos meus olhos. Pois bem, para mim, a partir de agora, aquilo que eu olho é tudo o que eu posso ver.
No percurso do meu apartamento até a portaria esbarrei, logo de partida, com a porta cozinha... A porta da minha cozinha guarda por dentro as chaves de todos os moradores da casa: eu, Lorena e Juliany, e de quem mais chegar... Atrás da porta - ou na frente dela, dependendo do lugar de onde a olhemos - eu prendi um claviculário e criei o hábito de pendurarmos todas as chaves, ao entrar na casa. Ali, naquela simples porta, eu tenho um objeto que representa o fechar e abrir das vidas de cada uma de nós... Resolvi que eu sairia hoje, com a imagem do "abrir portas" para eu entrar em todos os lugares que se fizessem necessários a minha presença. Porta do elevador e ele ali, me esperando sem que eu precisasse chamá-lo... dentro, um espelho... que mulher não se olha no espelho do elevador? Eu! Saio tão apressada (e sempre adiantada porque odeio atrasar compromissos), que entro de costas e nem percebo que diante de mim estou eu, toda arrumada, cuidadosa com os detalhes - do perfume ao anel que vai no dedo... Sim, eu consegui ver o meu cheiro naquele espelho... Para sair dele - não mais do elevador, mas do espelho - outra porta... e de fácil acesso... os passos que me conduziram do hall de entrada - que para mim era de saída - pareciam de quem ia ao encontro de algo completamente novo... e era... cada planta daqueles jardins, cada brinquedo daquele play, cada criança que aguardava a van da escola, o porteiro, os seguranças... cada pessoa ou coisa daquela natureza me pareciam diferentes... Outra porta... e... alguém a abriu para mim... e o meu táxi estava lá... o mesmo diferente motorista... a mesma diferente estação do rádio... a mesma diferente conversa entre mim e o taxista... mais uma porta... para entrar e para sair... cheguei ao trabalho... mais uma porta... e outra... e outra... e outra... e todas as portas pareciam diferentes e todas foram abertas por mim ou para mim de forma diferente... e também fechadas... delicadamente fechadas... como no ciclo da vida... "em eterno ir e vir"...

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