Qualidade Vivida

domingo, 27 de outubro de 2013

Vontade Involuntária

Hora do almoço, a discussão gira em torno da possibilidade ou não da existência de uma "vontade" que diz respeito à vida e não é, em absoluto, conduzida pela nossa capacidade de controle. Simples... estávamos a falar sobre o filme "Gravidade" que vem rendendo algumas horas extras para os meus neurônios. Poucos dias antes de assistí-lo, escrevi o seguinte na minha página pessoal do facebook :


Nosso corpo não foi programado para a morte. Ao contrário! Se ele entende que está ameaçado ele arranja um jeito de chamar a nossa atenção, adoecendo e transferindo a dor... Incrível, não é?! As doenças psicossomáticas existem para salvar a vida da gente, da morte! Mas, para quê adoecer se podemos desfrutar de saúde? Tudo em nós é inteligente... Até quando não parece... Quando olhamos com cuidado, generosidade e intimidade para nós mesmos potencializamos a saúde! Isso é genial.

Faz algum tempo, assisti no Discovery Channel (acho que no quadro "À prova de tudo") uma reportagem sobre uma alpinista que escalava um monte - eu não me lembro qual - e ela estava sozinha. Ela caiu de uma altura que seria bem difícil de sobreviver caso estivesse acompanhada, imaginem sozinha. Pois bem, ela teve fratura exposta em diversos lugares, ferimentos de todas as naturezas e ainda assim conseguiu se arrastar até a beira de um rio, onde, desmaiou logo após avistar um homem do outro lado. Ela só foi acordar depois de estar salva, de ter sido operada, etc... A explicação para tal fato foi simples: o nosso organismo produz "morfina" quando estamos diante de uma dor insuportável! Acreditou-se, durante muito tempo, que a morfina era uma droga criada em laboratório, para o combate à dores extremas, mas pesquisas recentes apontam para a produção dela, em nós, como afirma o cientista Meinhart Zenk, do Donald Danforth Plant Center, a saber: 


A nova descoberta mostra que os ratos produzem “um bloqueador de dor incrível” − e que os humanos e outros mamíferos possuem o mesmo mecanismo químico para a produzir, afirma o co-autor do estudo Meinhart Zenk, que investiga fármacos baseados em plantas no Donald Danforth Plant Center em St Louis, no Missouri, nos Estados Unidos.

Sempre que discuto sobre a questão da sobrevivência, me pego entusiasmada com a possibilidade de que, ao contrário do que sempre ouvimos, podemos ser seres para a vida e não para a morte. Independente de crenças religiosas, venho constatando que quando temos mandatos internos que qualificam e enaltecem a vida ao invés da morte, criamos condições de sobrevivência inimagináveis, e a minha intuição me diz que criamos, inclusive, fatores que não existiriam se não fosse aquele contexto específico, em que acreditamos realmente que somos capazes de sair daquela situação. A questão central está na CRENÇA! Sim. No fato de que podemos enviar estímulos ao cérebro que o fazem comandar as funções para vida ou para morte. Mas ainda que ele envie os comandos para a morte, é sinal de que em algum lugar em nós, a nossa crença de viver bem passa pela possibilidade de morrer e não de viver. Daí, os estímulos que produzimos em nós estão impregnados de fatores pró ou anti-vida! Quando acredito realmente que sairei de tal situação, meu cérebro arrumará uma forma de me tirar daquela roubada. Seja produzindo hormônios em doses extras, seja dilatando mais as minhas pupilas para rota de fuga, seja criando amiguinho imaginário para me convencer do que preciso, seja produzindo um escambau de coisas que jamais seriam possíveis se não fosse aquela situação! Basta debruçarmos nossos olhares para pessoas que passaram por situações de EQM - experiência de quase morte. E eu vivi isso, por conta de uma hemorragia interna, às vésperas do aniversário de 15 anos da minha filha. Tudo em mim estava, aparentemente parado. Eu não respondia a estímulo nenhum - nem mesmo os choques, as agulhadas que me aplicavam para eu "voltar" - mas podia ouvir tudo o que estava à minha volta: o movimento dos médicos, a minha mãe dizendo que eu não podia morrer, eu só não sentia nada. Fui transferida em uma UTI móvel para outro hospital e quando estava no caminho, comecei a recuperar, sei lá como, alguns movimentos. Lembro-me de tudo, antes de desmaiar e depois de me encontrar deitada na maca. Sei que existiu um intervalo do qual eu me ausentei de mim, mas eu voltei! O meu relato é muito semelhante ao relato de algumas pessoas que passaram por situações parecidas. 
Chamo de "Vontade Involuntária" a disposição que temos para agir mesmo quando a ação não está no controle da nossa razão. Por exemplo, não dizemos ao coração: bate ai; ou aos rins: filtra; ou às pernas: andem. Meu coração bate, meus rins filtram e minhas pernas andam, independente de eu estar ou não pensando nessas ações. Elas não dependem da minha vontade arbitrária para me fazer existir. Se isso é possível, porque não pensar na possibilidade de que, tanto quanto o nosso coração bate independente da nossa vontade voluntária, somos potentes por vontades involuntárias que criem situações que garantam a nossa estada na vida de acordo com o nosso sistema de crenças? Isso serve para pensarmos sobre muitas coisas: o cuidado, o amor, o desejo... Perco o foco quando me apaixono por uma ideia e a vejo sobre diferentes possibilidades... Bem... Tenho um problema que estou amando desenvolver e a falta de compromisso acadêmico me deixa livre para compartilhar os meus pensamentos com vocês... Isso é bom demais!
P.S.: O termo "Vontade Involuntária" foi sugerido pelo meu genro Brunno, no auge da nossa discussão!

2 comentários:

  1. Excelente, sogra! Não tenho nada a acrescentar que não tenha sido conversado na mesa, só uma questão... Amor (ou qualquer outro sentimento) seria uma vontade involuntária?

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  2. Sim! O encontro pode ser buscado... Mas o amor... Não temos controle sobre a quem amar! Amamos e ponto! Estou exatamente debruçada nisso, agora!

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