Qualidade Vivida

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Orgasmo ou Gozo?

Apenas um dia de chuva, aparentemente um dia como outro qualquer...
A chuva sempre me convida a repensar minha vida... Um ar bucólico me invade a alma roubando de mim meus mais doces sonhos... 
Aprendi a falar com os olhos, mas só comunico o que estou sentindo aos que me são queridos... Esses, geralmente, reconhecem o que acontece comigo só de olhar... Sem falar daqueles amigos de alma que mesmo longe sentem quando não estou bem... Bem? E o que é estar bem? Levando em conta que eu tenho uma saúde invejável, duas filhas lindas, inteligentes, deliciosamente amigas e bem sucedidas com as questões do coração, que além de tudo isso eu tenho uma casa bem bacana - simples, mas gostosa de se viver, pais saudáveis e acolhedores, amigos que eu posso contar de verdade - na alegria e na tristeza, na saúde e na doença -, uma profissão bem sucedida... Pensando de modo geral parece heresia dizer que eu estou com um vazio no peito... e o que pode estar faltando em uma vida tão bacana? Minha terapêuta diz que se há o vazio ele precisa ser ocupado... mas ocupado pelo quê? Já chegarei aonde vocês querem... mas antes, vou falar um pouco sobre uma conversa que tive pela manhã, com dois amigos...
"Depois que a criação nasce eu fico depressiva"; o "processo criativo é orgástico"...
Ouvindo isso falei imediatamente: se há a depressão em seguida do nascimento do processo criativo, fico com a sensação de que ele não foi orgástico, mas fruto de um gozo, apenas um gozo!
Quando sentimos alegria em seguida do ato sexual, podemos explicar essa sensação pelo processo neuroquímico que deriva disso; em outras palavras, sinal de que produzimos endorfina em grande dose e esta substância contribui para proporcionar uma sensação de bem-estar e tranquilidade semelhante ao produzido por algumas drogas como o Valium, por exemplo. Porém, o efeito é passageiro e o que decorre dele em seguida, pode, inclusive nem ser lembrado como agradável. É assim que acontece quando entregamos um projeto do qual estávamos apenas movido pelo compromisso profissional. Quando damos conta dele, acabar logo e bem gera uma sensação grande de alívio - cabe comparar esse alívio ao gozo, cabe dizer que a entrega proporcionou alegria.
Agora, se estamos falando de algo que mobiliza nossa energia, rouba nosso sono, nossos pensamentos, nossas horas vagas, estamos falando de algo muito maior... Não é apenas a entrega de um projeto, mas a entrega DO Projeto! Sim... aquele que nos causará orgulho pelo resto da vida, que nos lembraremos em qualquer ocasião, que sempre usaremos como referência ainda que outro chegue com a mesma mobilização... Quando concluímos "O" Projeto sentimos uma sensação prolongada de extensão nossa, nele... um filho, um casamento que é fruto de muito amor; a conclusão de um curso que decorrerá na nossa profissão... Todos esses exemplos geram em nós estado de felicidade. A sensação prolongada do prazer que se dá por ocasião do ato sexual é ocasionada pelo orgasmo. O gozo está para a alegria assim como o orgasmo está para a felicidade. Cabe aqui uma breve distinção entre alegria e felicidade. A alegria é a emoção proporcionada pela ocasião e/ou conclusão de alguma coisa que satisfaz uma necessidade daquele momento - gera alívio. Já a felicidade é a emoção que se dá em nós quando realizamos "sonhos". Gera conforto. O termo "sonhos" aqui está no sentido de projeto de vida, algo que planejamos com os nossos sentimentos inclusive, e quando realizado proporciona uma satisfação tão prolongada que pode passear por toda a nossa existência. 
Chegando perto do que vocês desejam ler... sim... me falta um amor! Me falta outro estado de felicidade que é fundamental em minha vida. Hoje, experimento, simbolicamente, o orgasmo quando:
  •  olho as minhas filhas dedicadas à alguma coisa,
  •  quando as vejo saindo com seus amores,
  •  quando as vejo estudando,
  • quando as vejo conversando uma com a outra sobre coisas que só pertence a elas,
  • quando termino um texto que brota de um conhecimento que eu venho pesquisando com afinco,
  • quando olho o álbum de fotografias e vejo a minha família - a que constituí com o pai das minhas filhas - reunida e desfrutando de algum momento, tal como uma viagem, uma festa, um passeio despretensioso,
  • quando lembro de momentos que se eternizaram em minha memória por ocasião da minha bem sucedida relação com o meu ex-marido,
  • quando ouço uma música e me pego chorando porque ela me reporta à algum lugar que me é muito querido e especial,
  • quando estou com um(a) amigo(a) e sou capaz de estar perto, mesmo que longe, pelos laços profundos que se realizaram naquela amizade,
  • quando sinto meu coração disparar por lembrar dos meus pais assistindo televisão de mãos dadas, todas as noites... ,
  • quando sinto cheiro de alfazema em lugar desconhecido e, por conta disso, me remeto à minha infância,...
Eu ficaria aqui dissertando uma infinidade de situações que me fazem sentir feliz: "orgasticamente" feliz, mas me falta a emoção da plenitude do amor, outra vez! E sem lamentação alguma, pois estou certa que não adianta procurar o amor, é ele que nos encontra - ainda que eu esteja em casa! Gosto de dizer aos meus clientes que quando o coração está pronto para amar ele chama o outro coração e vai em sua direção, porque simplesmente ele escuta o chamado. É... dias desses, eu estava no cinema com a minha filha mais nova e em uma das cenas a protagonista dizia: "não se pode ter tudo na vida"! E no meio do silêncio do cinema eu disse: Pode sim, filha! Acredite. O cinema veio abaixo de risos, com o meu comentário e a minha filha "morreu" de vergonha... "só você mãe..." em tom de reprovação... Mas eu acredito tanto nisso, que não pensei para falar... meu coração sentiu e minha boca pronunciou...
Pela manhã eu disse que não sabia a origem da minha tristeza, do meu vazio... mas agora... depois de exorcizar meus pensamentos eu encontrei a minha resposta...
A partir disso, estou convicta de que em minha vida, nesse momento, eu desejo que o amor me encontre e que a partir dele eu volte a vivenciar o orgasmo de uma relação e, assim, na plenitude do que se segue eu consiga realizar o encontro amoroso...
(Texto escrito e publicado em dez. de 2011)

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