Qualidade Vivida

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A relação do processo de criação com o excesso

Eis que eu estava deitada, livro fechado, esperando o sono me encontrar. Minha cabeça fervia! Tudo parecia tão desconexo! Mil coisas passavam em meu pensamento, sem sentido algum... sobre parto natural e cezariana, sobre histórias infantis, sobre educação ambiental, sobre fazer trilhas, sobre o Caminho de Santiago, sobre o livro que estou lendo - "Efeito Sombra"- e alguma de suas frases impactantes em mim, sobre se amanhã comerei a comida deliciosa da Adélia ou se irei almoçar em casa, sobre o evento que realizei hoje na porta da "Villa dos Bebês"... Talvez a minha dislexia esteja super aflorada, talvez a minha capacidade de concentração tenha se perdido ainda mais, sei lá... o fato é que precisei estar aqui... Uma coisa não posso negar: o processo criativo transborda e não me deixa dormir enquanto eu não o deixo sair... Sufocá-lo dentro de mim? Jamais! Depois da Esclerose Múltipla, tenho o maior cuidado com os sufocamentos que a vida me impõe. Prefiro tomar as rédias dela a deixá-la me levar, ainda que nem sempre seja possível.
Cá estou... colocando ordem em minha cachola - ou ao menos tentando! No meio de tanto pensamento em ebulição, o que saiu foi filosofia... Bataille disse para mim, certa vez, por ocasião de um encontro que tive com ele, em seu livro "O Erotismo", evidentemente - adoro voltar ao séc. XVII  e rever Espinosa, por exemplo...- o seguinte:

Se vemos nos interditos essenciais a recusa que opõe o ser à natureza encarada como um excesso de energia viva e como uma orgia da destruição, não podemos mais diferenciar a morte da sexualidade. A sexualidade e a morte são apenas os momentos intensos de uma festa que a natureza celebra com a multidão inesgotável dos seres, uma e outra tendo o sentido do desperdício ilimitado que a natureza executa contra o desejo de durar que é próprio de cada ser.
(O Erotismo. Cap. IV. O movimento da prodigalidade da vida e o medo desse movimento)

Acompanhe comigo, se a vida acontece no excesso, no transbordamento do gozo através da morte de seres tais como o óvulo e os espermatozoides,  em sua necessidade de transformação, criando assim um novo ser, posso dizer que criação e excesso são termos indissociáveis. Não temos como pensar a criação sem deixar de fora o excesso. Quando "engaiolamos" nosso processo criativo, ele implode. E, de alguma forma, ele transbordará. Talvez, destrutivamente, em forma de patologias, mas ele arrebentará os limites da gaiola. 
Limite, outro termo que causa desconforto quando eu afirmo que para que sejamos seres transgressores necessitamos de limites na infância. Olha aí a minha falta de concentração invadindo o meu texto... Voltando...
A criação é o excesso. Aquilo que transborda de nós. É quando não damos conta de algo. É impossível detê-la. E foi isso que aconteceu comigo agora... E do que eu mais preciso para não me perder? FOCO! Nada é tão difícil para mim quanto ele! Soninho, por favor, venha ao meu encontro... Eu já transbordei...
Guernica, 1937, Pablo Picasso

4 comentários:

  1. Adorei e adotei com carinho a opcão de segui-la. Cabecinha linda e tão cheia de coisas boas. Sensibilidade e cultura. Bom somatório!!!

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  2. Minha amiga,cada dia mais percebo que somos muito parecidas.Hoje estou fazendo terapia com nosso querido Dr.Marcio Rocha,lembra?Pois foi justamente por esta em estado de ebulicao,DESORDEM EMOCIONAL ,que procurei um profissional para me ajudar.Ja completei 6 meses de terapia,e por incrivel que pareca ,hoje consigo dormir,respirar da forma certa,focar minhas ideias e voltar a ser eu mesma,sem muitas complicacaoes. Sei exatamente o que vc esta sentindo,quando diz que parece dislexia,rsrsrsr.Mas com certeza somos pessoas com um espaco interno tao cheio de coisas super legais que a sensacao e que vamos transbordar de tantas ideias e desejos. Transborde sempre que achar necessario,porque voce e muito especial.Bjs querida!!!

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    1. Nossa... Que saudade do Márcio!!!! Mande um beijo pra ele... É tão bom os encontros frutíferos, né Maria?! Obrigada por passar por aqui... Beijos

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