Qualidade Vivida

domingo, 15 de julho de 2012

Nós e eles

Quem são eles? Os filhos. Como eles bagunçam a vida da gente!!! A começar por essa única estranha forma de amar incondicionalmente. E por ser incondicional eles podem tudo, sem poder. Podem nos fazer sonhar que tudo o que não alcançamos para nossas vidas até agora será possível através deles, mas, em algum momento, a ficha cai e nos damos conta que não somos eles. Daí precisamos retornar os nossos próprios sonhos e deixá-los em paz para construírem os deles. E é ótimo quando confiamos neles e os deixamos caminhar sozinhos, podem apostar - eles são capazes!
É tão gostoso quando aprendemos a ler o termo "segurança" como sinônimo de "confiança"! Se minhas filhas decidem ir a algum lugar, eu preciso confiar na capacidade de proteção de vida que elas têm (escolhas). Ainda que elas arrisquem as suas proteções em algum lugar ou momento inoportuno ou inóspito e isso custe as suas vidas, preciso ainda confiar que elas fizeram o melhor que elas puderam, naquele momento. Quando estimulamos nossos filhos a correrem riscos calculados, eles se transformam em verdadeiros aventureiros de suas vidas. Ô coisa boa lançar-se ao mundo, por inteiro. Fácil? De jeito nenhum. Mas necessário. Confiança é sempre palavra chave na relação com eles. Mas não é essa coisa de confiar desconfiando! É confiar e p(r)onto. Só tem um problema... Só podemos dar o que temos. Quando não confiamos em nós, na educação que damos a eles, fica difícil confiar nos passos que eles estão dando... Puxa... Nesse caso, temos em nossas mãos o poder de transformar a vida deles num inferno! E a nossa também (lógico). Todo ser humano nasce com o instinto de proteção. Quando o cerceamos em função de acreditarmos (equivocadamente) que os filhos são nossa propriedade privada, estamos vulnerabilizando a construção ética deles. Nossos filhos estão, realmente, em nossas mãos quando nascem. Precisamos ter cuidado com a nossa capacidade de cuidar. Cuidar não é o mesmo que domesticar. Seres humanos não devem ser domesticados, mas educados para fazerem SUAS escolhas (não as nossas).
É bem difícil não desejar sofrer a dor dos filhos, eu admito. Mas, também, é impossível sofrer por eles (não somos onipotentes). Quando o sofrimento chega para elas (e chegará, sempre) eu sinto que o melhor que posso fazer é dar-lhes colo e proteção. Proteger não é o mesmo que privar. Uma das melhores sensações que um ser humano pode ter é a de saber que não está sozinho. Se roubamos do nossos filhos a condição humana do sofrimento, por exemplo, passamos para eles, veladamente, que não acreditamos na sua capacidade de superação. "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é" e mesmo quando eles não têm condições de saber, é nosso dever orientar... Apenas orientar! E isso já é coisa pra caramba, podem apostar! Quando eu oriento eu digo por trás das palavras: eu confio em você, você é capaz! Quando eu imponho ou ajo por ele, eu digo por trás das palavras ou da ação: você não é capaz de agir sozinho; por isso estou aqui fazendo o que você deveria fazer, por você. Lógico que a incapacidade de ação consciente existe, em incontáveis momentos. Mas é aí que entra essa tarefa deliciosa, mas nada fácil da maternidade/paternidade. Educar dá trabalho! Exige tempo e paciência. E quando os filhos são bebês? Bebês não tomam decisões, agem! A diferença entre tomar decisão e agir está no tipo de elaboração do pensamento. O cérebro do bebê está apto para agir dentro daquela faixa etária, mas não está apto a tomar decisão! A tomada de decisão (escolher entre uma ou outra coisa) é quando elaboramos o pensamento e construímos argumentos capazes de nortear a nossa ação. Ela vem acompanhada de objetivos, mesmo que estes não sejam ditos. Tomar decisão se aprende. Não nascemos com essa habilidade. Portanto, aqui, eu estou dizendo que os bebês precisam que os adultos decidam por eles. Crianças, não. Crianças devem ser orientadas a agir usando a sua capacidade de criação - liberdade! E quando fazemos isso com competência estamos contribuindo para que nossos filhos sejam transgressores! ADORO saber que eu oriento minhas filhas a agirem como transgressoras, em outras palavras: como duas lindas mulheres capazes de irem além de um limite imposto, construindo uma nova possibilidade de ação, pautada na ética. 
Algumas vezes me vi atropelada pela minha ansiedade, eu confesso! O tempo... Ah, o tempo! Esperar e respeitar o tempo de cada um é um ato de sabedoria. Para mim, por exemplo, o tempo mais longo no processo de desenvolvimento das minhas filhas foi a fase em que elas eram bebês. E em termos de tempo cronológico, foi o mais curto. Isso se dá em função da minha dificuldade de ter ao meu lado seres que dependam totalmente de mim, para sobreviver. Bebês não se alimentam sozinhos, não andam sozinhos, não falam... Eles precisam muito da nossa disponibilidade de tempo para eles. E é da qualidade, bem como da quantidade dessa disponibilidade de tempo que norteará a criança que está por vir. 
A maternidade/paternidade deve acontecer até o nosso último suspiro. Essa tarefa é uma das poucas que não acabam com o tempo. Não é porque as minhas filhas cresceram, se tornaram independentes que eu deixei de ser mãe delas. E na condição de mãe, espero que eu tenha o que ensiná-las e o que aprender com elas enquanto eu estiver viva! 
Um dos momentos mais preciosos dos filhos é quando eles rumam em direção ao voo solo! E isso acontecerá diversas vezes, em diferentes situações. E é aí que eu enxergo o tamanho da minha competência, enquanto mãe e educadora. Não me furto demonstrar o orgulho que sinto delas por terem condições de caminharem sozinhas... Eu dou graças ao reconhecer um momento como esses e poder presenciar dessa etapa tão importante que é ver as minhas meninas trilhando seus percursos. E sabem do quê mais? Elas se sentem seguras quando percebem que estou segura diante das suas escolhas. Verbalizam isso, sempre! E a recompensa é a permissão que elas me dão para que eu, em alguns momentos, corra ao lado delas! Uma coisa eu garanto: quando criamos os filhos devemos criá-los para superarem a si próprios, nunca ao outro. Sendo assim, se eles, em dado momento, correm mais rápido do que a gente é sinal que estão em outro ritmo e isso também precisa ser respeitado. Não entenda esse momento como que ele tenha deixado você para trás - eles deixam mesmo! Devemos apenas respeitar o momento deles em "ir adiante". O que eu faço? Sorrio, sempre!
E não foco nos "tropeços", mas: "assisto às glórias". Assim, eu posso vivenciar os incontáveis momentos de vitória que elas têm, e ainda colaborar para que superem os "equívocos" do percurso.



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