Qualidade Vivida

sábado, 14 de maio de 2011

Ação do tempo...

Ontem foi dia de reencontro de amigos do colégio... Fomos para o Outback comer aquela deliciosa cebola, embalados pelas conversas saudosistas que fomentaram nossas memórias... Recebi de um amigo, dias desses, uma sequencia de fotos de Nicholas Nixon - um fotografo profissional - que flagrou a ação do tempo no corpo de quatro irmãs (uma delas é sua esposa), ao longo de 25 anos.  Quando vi as fotos fiquei impressionada com o desgaste do corpo e pensei imediatamente - para minimizar a minha dor: o corpo envelheceu cruelmente, mas aposto que a alma ganhou uma sabedoria que lhes é impossível fotografar... Seja lá o que isso quer dizer, balançou as minhas estruturas... e de verdade... comecei o dia de ontem numa amargura só... me vi falando mal de dona de casa (como se eu não fosse uma), de mulher gorda (como se eu não estivesse acima do peso), de mulher magra que frequenta academia (como se eu não frequentasse academia de ginástica), de mulher fútil (como se eu não tivesse os meus rompantes de futilidade)... Me vi falando mal de mim mesma... sim... eu estava de mal comigo por ter me reconhecido nas fotografias de Nicholas. Definitivamente eu não queria ter entrado em contato com aquelas fotos justo no dia do reencontro dos amigos do colégio... que medo... o pior é que eu não teria tempo de ir em casa me arrumar para encontrá-los... saí direto do trabalho, com cara de acabada (retoquei brevemente a maquiagem), disfarcei com algumas borrifadas de perfume e parti para a casa do meu amigo para irmos juntos ao encontro do pessoal... Deliciosa noite... O encontro que me angustiou o dia todo terminou regado de carícias... dos meus amigos, mas principalmente da minha maior inimiga no dia de ontem: EU! Fui recebida pelo meu amigo e por sua adorável esposa, em sua casa e enquanto ela tomou uma rápida ducha ele me serviu um delicioso vinho. Ali, naquele momento comecei a entrar em contato com o pior de mim, que é também o meu melhor: Eu inteira. Ele disse: envelhecemos Claudinha, com muitas histórias boas para contar - frase que startou as pazes que fiz comigo mesma. Pois é... envelhecemos... eu perdi o viço da pele, o rosto esticadinho, os seios em pé, o corpinho sem celulites, a bela panturrilha... Porém - e sempre tem um porém - ganhei a beleza do olhar; o encantamento em me dar conta de que todos nós ali reunidos demos certo nas carreiras que escolhemos seguir; as manchas no meu rosto que caracterizaram a minha maternidade bem sucedida; as celulites que representam cada ano de vida de desfrute (malditos/benditos estrogênio e progesterona); as rugas das mãos; os cabelos brancos que, embora pintados, existem e dão trabalho... Parece que tudo conspira contra nós... mas não é verdade... quando perdemos a juventude do corpo ganhamos a juventude da alma. Quando eu era jovem eu era intolerante, arrogante, tinha certeza que o mundo girava ao meu redor, algumas vezes até achava que eu era deus... talvez fosse mesmo, no sentido de que eu acreditava que era capaz de mudar o mundo. Partindo do princípio que o meu mundo era o meu universo, eu o mudei, logo, eu fui deus diversas vezes, por potencializá-lo - na sua Natureza - em mim... Hoje, 35 anos depois, minha alma ficou mais jovem... mais leve, mais gostosa... Aprendi com a diferença a fazer diferente, coloquei doçura no olhar, aprendi a ri daquilo que eu não sei e o melhor: aprendi a assumir que não sei... aprendi a amar o outro porque entendi que o outro é uma extensão de mim e sendo assim, ao amá-lo amo-me intensa e incondicionalmente... aprendi que a pele quando envelhece fica macia e gostosa, portanto boa de desfrutar... aliás, aprendi a desfrutar... aprendi que não preciso ter medo de envelhecer sozinha porque tenho uma legião de amigos que me aceitam do jeito que eu sou... aprendi que preciso aceitá-los também, e que esse é o caminho que nos livra da solidão... aprendi que é muito bom ouvir que eu fui as pernas mais bonitas da escola, mas que hoje eu sou o lugar onde estas pernas puderam me levar... sim... eu sou... eu sou ética... eu sou abrigo... eu sou morada... por isso meus amigos... envelhecer é ser jovem... o corpo vai morrendo diariamente, mas a alma vai nascendo a cada instante, melhor e melhor e melhor.... é preciso re-des-cobrir isso... Deixemo-nos fotografar em nossas almas...

2 comentários:

  1. Existem coisas que somente com o tempo a gente consegue perceber, entender, assenhorear-se e 'transmutar'.
    Nem todos têm - ou usam - a capacidade de olhar para dentro de si e enxergar isso, mesmo que tenham vivido por muitos e muitos anos.

    Acho que você é um dos poucos seres privilegiados com esta capacidade então (mesmo sem ter vivido 'muitos e muitos' anos! rsrsrsrs).

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  2. Você... sempre muito gentil nas palavras e cuidadoso com os termos... vivo cada instante com tanta intensidade que o instante seguinte fica saudoso do anterior, e aí mergulha naquele instante desejoso de que o próximo seja ainda melhor... assim vivo... Obrigada, Edu!

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