Qualidade Vivida

terça-feira, 24 de maio de 2011

Indo embora...

Esse mundo me encantava. Eu podia escapar ao entrar nele, sem obrigações nem pertencimento. Com você, eu estava em outro lugar; um lugar estrangeiro, estrangeiro a mim mesmo. Você me dava acesso a uma dimensão de alteridade suplementar - a mim, que sempre rejeitei toda identidade e juntei uma identidade na outra, sem que nenhuma fosse realmente a minha... Eu tinha a impressão de construir com você um mundo protegido e protetor.
(Gorz, André. Carta a D.)

Essa invasão de mim, em mim vem roubando o meu sono... Sonho com o dia em que pegarei a estrada sem rumo, irei em direção ao desconhecido e como companhia levo apenas a mim, para que possa encontrá-lo. Sonho com cada meio do caminho... Não pertenço a ninguém diferente de mim mesma... Cada passo na estrada e eu serei outra pessoa e outra e outra... transmutando a cada instante...
"Procuro um amor que seja bom pra mim, vou procurar, eu vou até o fim..." e esse amor tem que ser mais amado meu do que eu amada dele... A dor de amor do outro me é insuportável; mais do que a minha própria (desta eu dou conta)! Enquanto escrevia ontem descobri que a mim não basta um homem que me ame... é pouco! Quero amar... preciso amar... e foi para isso que vim ao mundo - para amar! Acho que é por isso que me apaixonei pela história de Dorine... sim, de Dorine e não de André. Dorine foi alguém que amou tanto que o seu amor impregnou a sua vida... Dorine não deixou de fazer nada por André, mas fez tudo por André. E em troca? Nada além do seu amor...  A dedicação do amor é plena e transformadora... e em mim um paradoxo: ela me liberta e me aprisiona... O meu amor precisa ser um andarilho como eu, mas eu quero encontrá-lo na estrada... livre... no meio do caminho onde não haja mais a necessidade de filhos nossos... e eu vou até o fim com ele... na nossa curva encontraremos os nossos maiores desejos e faremos deles a nossa razão de ser. Não quero que o meu amor abra mão de sua vida por mim! Quero que ele chegue com a vida aberta para mim... e eu entrarei nela escapando... Estou indo embora...Preciso escapar com o outro, para qualquer lugar, mas sem pertencimento... como Dorine, na fala de André...

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